DAP - Casa Branca

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Constância e persistência, sensibilidade e delicadeza...sobre o ofício do professor, conversando com a artista Vânia Mignone




Em conversa com a artista Vânia Mignone, momentos antes de sua fala e oficina realizadas em virtude da exposição (ateliê permanente) 8 CABEÇAS E UM BURRO, me impressionou sua percepção do tempo necessário para que alguém desenvolva seu trabalho. Em sua experiência como professora, a artista mantém um ateliê há mais de 15 anos, destaca-se o irrestrito respeito aos interesses das crianças, seus referenciais, da percepção particular daquilo que chama sua atenção no mundo, de uma maneira geral, àquilo que normalmente associamos ao mundo das artes, como desenhos e pinturas. A artista usou as palavras empatia, sensibilidade e delicadeza. Ao mesmo tempo, percebi que estas qualidades juntas devem constituir uma densidade, devem orientar investimentos no manuseio dos materiais tanto quanto das referências, que não podem ser definidos a priori, num plano de aula, mas devem surgir em um contexto de experimentação que permita a livre escolha e assim a ousadia dos alunos. Aí vale de pokémons a bailarinas e super heróis. O que importa é criar a possibilidade para a criança se expressar e ajudá-la para ser/ter o tamanho e a qualidade adequada para que se sinta capaz. Ela me relatou alguns casos de crianças que acompanhou durante 4, 6 anos e o contato que ainda mantém com eles, alguns definindo a arte como sua área de atuação profissional.


Foi uma conversa muito significativa, também percebi as expansões dos conceitos implicados nos trabalhos da artista, que insiste em usar materiais de baixo custo, como tintas acrílicas baratas e pranchas de MDF, além de papéis das mais variadas origens, de sedas a catálogos desmontados ou rasgados que se tornam colagens. Percebi em algum momento que tudo isso posto, o que a artista alcança é um estado inicial de comunicação, como quando temos um fato inegável diante de nós, a consciência da finitude, por exemplo, que nos coloca em estado de alerta e desconfiança das nossas certezas e pode gerar também o que a artista chama de empatia. De que adiantam as obras de arte se elas não tornam a vida um pouco mais viável, Vânia entende que seu trabalho a mantém viva, mas não no sentido de tornar a vida mais fácil, e sim no sentido de torná-la possível, com tudo o que lhe aparece.


Mas o que eu queria mesmo era fazê-la falar de sua experiência como professora, em como podemos aproximar alunos do objeto artístico. Entramos em acordo sobre a dedicação necessária, a permanente observação dos interesses e viabilização dos meios, além das atualizações das referências que implicam numa revisão histórica que considere a presença efetiva das crianças no aqui e no agora, no cenário que temos, com imperfeições que nos qualificam e na originalidade dos contextos de cada um. Por fim, nos revigorou a idéia de momentos de compartilhamento na execução de uma tarefa, de um objeto que represente alguma solidez, já que quanto mais o tempo passa mais e mais temos ciência da multiplicidade de resíduos que nos constituem. Um sopro e nada mais.


Danillo Villa - Chefe DaP


Nas fotos a seguir, conversa com a artista Vânia Mignone e oficina:









2 comentários:

  1. O texto relata somente quão foi prazerosa a experiência pessoal do encontro com a artista. Deixa de lado o que seria mais importante ao leitor (a metodologia aplicada em arte educação e a própria narrativa da construção do trabalho da mesma). Afinal quando compartilhamos informação se faz necessário, levar em consideração que: nem todos os receptores compartilharam da tal experiência. Quando escrevemos algo que será compartilhado alguns cuidados devem ser tomados, afinal escrever também é uma arte e, como toda arte, também está sujeita a criticas e reflexões como construção de conhecimento...

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    1. Discussão interessante, destaco somente como orientação metodológica a atenção que a artista dá aos referenciais que os alunos trazem e o trabalho que realiza a partir deste início. Um outro ponto é uso de materiais baratos, que permite a realização de um maior número de experiências. Quando, como professores, conseguiremos ouvir, ver e permitir que se manifestem as diferenças em nossas escolas? Ou a escola é o lugar do igual? Quando as informações que os alunos trazem de suas próprias vidas serão consideradas conhecimento(ler Paulo Freire)e não ignoradas em nome de planos de aula que geram segurança para o professor, mas pouco ou nenhum resultado para os alunos.

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